Este artigo reflete sobre as causas da subjetividade na avaliação. O primeiro passo para mitigar este facto é tomar consciência do problema.
Encontrar métodos que permitam tornar a avaliação um processo mais claro, mais objetivo e mais justo, tem sido objeto de estudo ao longo dos anos. Por isso, atualmente se fala da importância de existirem diferentes tipos de avaliação, que devem ocorrer em diferentes momentos do processo aprendizagem e que têm também diferentes funções.
Contudo, e apesar dos muitos progressos feitos neste sentido, o avaliador contínua a ser uma figura insubstituível em todo este processo, trazendo consigo toda a carga de subjetividade inerente a qualquer ser humano na sua relação com os outros.
Estamos constantemente a avaliar
No nosso quotidiano, ainda que inconscientemente, estamos constantemente a avaliar e a ser avaliados, e esta avaliação é feita em função dos valores, formas de estar e de ser, que cada um de nós tem, e por isso subjetiva.
Quando a avaliação faz parte duma função profissional, é evidente que não perdemos toda a carga subjetiva. Tomar consciência de que estes fatores existem e podem influenciar todo o processo, ajuda-nos de alguma forma a combatê-los, diminuindo assim o seu impacto.
Podemos considerar três fontes principais de subjetividade que conduzem a distorções na avaliação, correspondentes a fatores individuais, sociais, ou resultantes do próprio processo de avaliação.
Fatores individuais
A avaliação pode variar consoante o humor, a disponibilidade ou o estado de fadiga do avaliador. Mas esta é também uma expressão daquilo a que cada um é mais sensível, para além da impressão imediatamente produzida (um determinado avaliador pode dar mais importância ao domínio da língua, mesmo que o exercício seja de matemática, e o outro à apresentação, por exemplo).

A diversidade de critérios, possibilita múltiplas combinações. A avaliação tem ainda uma dimensão ideológica e depende muitas vezes das representações do próprio avaliador (a imagem que tem do seu papel, e a forma como deve afirmá-lo, se se considera benevolente ou severo).
Fatores sociais
Os juízos dos avaliadores podem ser inconscientemente influenciados por valores sociais.
Muitas vezes o domínio da língua, o uso de determinados gestos, o vestuário, a mímica, a relação com a cultura e o saber caraterísticos de um determinado grupo social, são tidos como indicadores de competências, acontecendo muitas vezes que se confundem.
Para além destes mecanismos sociais de reconhecimento ou exclusão entre avaliador e avaliado, pode ainda considerar-se como fator social de desvio, ainda que num sentido mais lato, a situação “geográfica” onde ocorre o ato de avaliação, ou seja, a avaliação ocorre num determinado contexto, e exprime muitas vezes tradições ou particularidades locais, que caraterizam uma determinada região, escola ou instituição, consoante a sua história.
Os avaliadores tendem, por necessidade, a adaptar as avaliações às caraterísticas socioculturais do seu público, ao terem em conta a caraterização dos grupos ou dos indivíduos. Dessa forma, os fatores sociais são também uma das da subjetividade da avaliação.
Fatores resultantes do próprio processo de avaliação
Existem causas que estão ligadas ao próprio ato de avaliar, na sua dimensão de tarefa psicológica. Alguns autores empenharam-se em conhecer a forma como os avaliadores se organizam para formar os seus juízos e em descrever os mecanismos psicológicos que mobilizam na realização das suas tarefas.
Conseguiram isolar algumas caraterísticas do funcionamento cognitivo do avaliador, realçando os efeitos produzidos no processo de avaliação. Entre outros, foram identificados e estudados experimentalmente cinco fatores de variação:
- a ordem das provas no lote avaliado;
- as informações de que se dispõe sobre os avaliados;
- o “lugar” dos índices pré-escolhidos numa produção apreendida necessariamente como diacrónica;
- a combinação ou articulação de índices tendo em conta várias dimensões
(ex.: estilo, ortografia, cálculo, raciocínio…); - a natureza da linguagem utilizada para enunciar a avaliação.
Os resultados mais interessantes dizem respeito aos dois primeiros fatores, que se revelaram como importantes fontes de variação no processo de avaliação.
A ordem das provas no “lote” avaliado, foi considerado um fenómeno importante na medida em que as produções avaliadas fazem normalmente parte de um “lote” (tanto podem ser provas orais, como testes escritos) e a investigação realizada pôs em evidência efeitos de ordem, também descrito como fenómeno de ancoragem, isto é, algumas provas com uma avaliação situada nos extremos (muito boa ou muito má), desempenham um papel de “âncora” e modificam a perceção dos trabalhos seguintes.
Assim surge o chamado o efeito de contraste, uma mesma prova é julgada como mais fraca quando se encontra a seguir a uma “âncora” alta e mais forte quando está a seguir a uma “âncora” baixa. Mesmo numa prova oral, quando um aluno médio é avaliado a seguir a um aluno brilhante, tem muito mais dificuldades em provar as suas competências. Assim, as avaliações dependem em grande parte, do lugar que a prova ocupa no “lote” avaliado.
Por outro lado, as avaliações podem variar consoante as informações que o avaliador possui acerca do avaliado. Fala-se em efeito de origem, efeito da informação prévia ou ainda efeito de assimilação, ou seja, um mesmo trabalho é julgado de forma diferente dependendo do avaliado.
Em qualquer caso, o trabalho de alguém com auréola de bom formando é melhor avaliado e, inversamente, os progressos dos formandos considerados fracos, terão dificuldades em ser notados.
O efeito de origem está próximo do efeito de halo, quando há influência de aspetos diferentes: fatores de ordem “afectiva”, (comportamento do avaliado), ou formal (apresentação do exercício, ou no caso de prova oral, bom domínio da língua), sobre a apreensão de aspetos técnicos (que exprimem a competência pretendida).
O efeito da informação prévia, pode surgir quando existem informações (culturais, de capacidades de aprendizagem, comportamentos ou ideologias dos formandos), recolhidas pelo formador antes de iniciar a formação, que podem provocar distorções na avaliação.
O efeito de assimilação, fruto do mecanismo geral de estereotipia (os bons são sempre bons e os maus são sempre maus), é entendido como um possível fator de contaminação dos resultados e, por isso, factor de subjetividade na avaliação.
A avaliação pode ser “ajustada”, com a preocupação de minimizar o risco de errar e de evitar a dissonância entre duas séries de informações em relação:
- aos desempenhos anteriores do avaliado (efeito de assimilação)
- ao seu estatuto escolar/profissional (efeito de origem)
- ao seu estatuto social (efeito de categorização).
Conclusão
Principais causas da subjetividade na avaliação:
- Efeito da Informação Prévia – O formador possuí informações acerca do formando: capacidade intelectual, comportamento na formação, crenças religiosas, políticas, origem social etc.
- Efeito de Halo – Influência de fatores de ordem afetiva ou formal como por exemplo: comportamento, vestuário, forma de se expressar, tiques, tom de voz, em detrimento dos aspetos técnicos das competências a avaliar.
- Efeito de Assimilação ou Estereotipia – Tendência para a continuidade nas avaliações, os bons são sempre bons e os maus são sempre maus.
- Efeito da Ordem das Provas, ou Efeito de Contraste – Se uma prova média for avaliada a seguir a uma prova muito má a tendência é beneficiar e vice-versa.
- Ausência de critérios comuns entre os diferentes avaliadores – Cada avaliador utiliza os seus próprios critérios, com menor ou maior grau de exigência.
- Infidelidade do mesmo avaliador – Avaliação depende do estado de saúde física e psíquica do avaliador, assim como dos seus estados de humor
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