Avaliação de Comportamentos e Atitudes

Este artigo visa auxiliar o formador ajudando-o a identificar as principais formas de avaliação de comportamentos e atitudes dos formandos.

Instrumentos de Avaliação de Comportamentos e Atitudes

A formação de adultos pretende modificar atitudes e comportamentos com vista a uma melhoria dos seus desempenhos profissionais e a satisfação do indivíduo face à sua situação de trabalho.

O comportamento ou a atitude dos sujeitos a formar, face à aprendizagem ou aos novos conhecimentos ou ainda ao grupo de formação, pela importância que esses comportamentos e atitudes assumem como indicadores de atitudes sociais em outros contextos, são objetivos definidos para a formação, pelo que devem ser avaliados.

A avaliação dos comportamentos consiste em comprovar resultados, baseada na observação sistemática do formando. Esta avaliação é muito mais difícil do que avaliar conhecimentos, porque não se consegue encontrar uma medida para as atitudes humanas.

A avaliação de comportamentos decorre duma definição clara dos objetivos de formação, negociados com os formandos ou dados a conhecer devidamente justificados.

Definidos os objetivos de avaliação cabe ao formador seleccionar caraterísticas representativas e observáveis do comportamento a avaliar.

As caraterísticas de um comportamento serão as manifestações exteriores de uma atitude, portanto, observáveis.

Para a avaliação de comportamentos, o instrumento mais eficaz é a escala. A escala é um instrumento de avaliação de comportamentos em que se faz uma lista dos aspetos que se pretende avaliar e o grau em que estão presentes. O formador observa e anota o grau de consecução de cada objetivo.

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Entre outras destacam-se:

  • escalas numéricas;
  • escalas gráficas;
  • escalas descritivas;
  • e ainda o registo de ocorrências e a avaliação do trabalho de grupo.

Vantagens das escalas:

  • Focam melhor o campo de observação dos formadores.
  • Permitem cingir-se a objetivos mais específicos.
  • Permitem comunicar com clareza a informação recolhida, quer aos responsáveis quer aos formandos.
  • Permitem rapidez na avaliação.
  • Os dados arquivados, de fácil leitura, permitem observar o progresso de cada formando.

A eficácia das escalas depende de:

  • Precisão na definição de objetivos. Os aspetos a observar devem ser independentes entre si e descritos sem ambiguidades;
  • Rigor com que se escolhem e descrevem as caraterísticas das condutas observáveis. Os graus das condutas não devem ser menos de três, mas nunca em tão elevado número que dificultem a observação e o registo;
  • Participação e cooperação no processo de elaboração das escalas dos formandos;
  • Objetividade na avaliação: se não recolhermos dados suficientes por qualquer razão, é preferível não avaliarmos do que realizar uma avaliação subjetiva.
  • Intervenção de mais que um avaliador.

Causas de erros na elaboração de escalas:

  • Tendência para generalizar e usar estereótipos na listagem de caraterísticas de comportamentos.
  • “Efeito de halo”: o formador pode ser influenciado por informações avulsas sobre o grupo, “o grupo é definido como muito bom ou muito mau”.
  • A personalidade do formador pode alterar os dados recolhidos ou a natureza destes.

Para evitar falhas na avaliação, aconselha-se a aplicação da mesma escala por vários formadores ao mesmo grupo.

ESCALAS NUMÉRICAS

Traduzem um valor numérico o nível da caraterística avaliada.

Exemplos

  • Classificar de 1 a 5 determinadas caraterísticas e apresentar a legenda do significado de cada número: 1-Muito deficiente; 2-Deficiente; 3-Suficiente; 4-Bom; 5-Muito Bom
  • 1-Nunva; 2-Raramente; 3-Ocasionalmente; 4-Frequentes; 5-Sempre

ESCALAS GRÁFICAS

Estas escalas traduzem o grau recorrendo ao uso da adjetivação, em vez da atribuição de valores numéricos. Pretendem ser mais expressivas do que as anteriores. A principal diferença é o modo de apresentação.

Utilização de Escalas Gráficas

ESCALAS DESCRITIVAS

As escalas descritivas utilizam uma descrição detalhada do grau do comportamento a avaliar e, por vezes, descrevem mesmo as diferentes caraterísticas que pode assumir esse comportamento.

A principal dificuldade destas escalas consiste no rigor com que devem ser construídas. Uma vez elaboradas são muito úteis. As descrições dos comportamentos permitem uma avaliação mais objetiva do que as escalas numéricas. As escalas de Lickert podem ser adaptadas à avaliação de comportamentos.

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REGISTO DE OCORRÊNCIAS

Descrição: Registos breves de acontecimentos observados em sala no grupo ou com um formando e que sejam significativos do comportamento do grupo ou de cada um dos seus elementos. Utiliza-se uma ficha simples com a referência ao dia e ao formando. Os termos mais utilizados para este registo são: reage, replica, conforma-se, ajuda, isola-se, etc.

O registo de ocorrências não constitui em si mesmo um sistema de avaliação, sendo um método de recolha de informação para avaliar posteriormente o formando. Não implica uma avaliação negativa, pois recolhem-se também incidentes que traduzem atitudes ou comportamentos positivos.

O formador, na utilização de registos de ocorrências ou incidentes críticos, deve ter em atenção o seguinte:

  • anotar o incidente e não a sua interpretação;
  • anotar o incidente descrevendo o contexto em que ocorreu;
  • não conservar esses registos como material confidencial, mas apenas como dados para a avaliação;
  • não usar juízos preconcebidos na recolha de incidentes.

Os registos de ocorrências ou incidentes críticos apresentam algumas vantagens, como por exemplo:

  • Personalizar a avaliação em vez de a generalizar ao grupo;
  • Fornecer dados ao próprio formando para a auto-avaliação;

A informação obtida pode chamar a atenção para problemas resultantes de fatores externos à própria formação, as que a condicionam.

AVALIAÇÃO DO TRABALHO DE GRUPO

A avaliação das atividades de formação realizadas em grupo deve ter instrumentos próprios. Normalmente utilizam-se fichas de observação em que os elementos de cada grupo registam numa escala os comportamentos de cada membro do grupo e o seu próprio.

O formador cruza depois as avaliações de cada elemento e elabora um quadro-síntese baseado numa ficha semelhante. O processo de elaboração deste tipo de fichas segue os mesmos princípios de outros instrumentos de avaliação:

  • Definição dos objetivos e comportamentos a observar;
  • Listagem das caraterísticas dos comportamentos;
  • Aplicação de uma escala.

ESCALA DE AVALIAÇÃO DAS ATITUDES

Existem diversas escalas de atitudes. As mais utilizadas são as de Lickert e de Thurstone.

As escalas de atitudes pressupõem os seguintes princípios:

  • As atitudes podem inferir-se das opiniões expressas;
  • As afirmações contidas nas escalas têm o mesmo significado para todos;
  • As atitudes podem “medir-se” de modo a traduzirem-se em classificações numéricas e representadas em escalas.

Estes princípios podem ser polémicos, mas não se encontrou outro método mais objetivo para avaliar ou classificar as atitudes. A validade e fiabilidade destas escalas resultam da qualidade do itens elaborados.

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ESCALA DE THURSTONE

Thurstone partiu dos seguintes princípios:

  • As opiniões sobre um objetivo podem ser ordenadas do mais favorável para o menos favorável;
  • A ordenação permite manter uma “distância uniforme” de opinião para opinião;
  • As opiniões expressas são independentes entre si;
  • A valorização de um sujeito resulta da média de valorização dos itens com que está de acordo.

1. Seleção inicial de itens

O formador deve reunir opiniões sobre o objetivo a avaliar. Uma maneira simples é solicitar opiniões por escrito àqueles que vão ser os inquiridos.

Estas opiniões servem de exemplos, mas terão de ser selecionadas de acordo com os seguintes critérios:

  • As opiniões com mais de uma ideia devem ser eliminadas;
  • As opiniões ambíguas não servem, assim como as que referem factos com os quais todos estamos de acordo.

2. Valorização dos itens

A valorização de cada item deve ser realizada por um conjunto de indivíduos maduros e capazes de avaliar (25 é um bom número de juízes).

normalmente fornece-se um máximo de 60 itens para se obter uma lista de 20.

Pedimos aos juízes a sua valorização de acordo com instruções precisas. Usa-se uma escala de 1-7 ou 1-11. Convém ser valores ímpares.

Seleção definitiva

Agrupam-se as opiniões obtidas por itens e pelo número dos que preferiram cada item. Faz-se depois a mediana para cada item do valor atribuído. Podemos ainda calcular o desvio padrão.

Selecionam-se os itens com maior uniformidade de opiniões e aqueles mais representativos de todos os valores da escala.

Apresentação e emprego

A edição definitiva utiliza uma listagem dos itens de forma aleatória. Nas instruções para análise indica-se o valor numérico de cada item. Mas os que vão responder apenas devem escolher os itens que traduzem a sua opinião, sem conhecerem o valor de cada item.

A média das atitudes expressas resulta da “média” dos valores das opiniões escolhidas.

Esta escala, se bem construída, é muito interessante. A sua principal desvantagem prende-se com o facto de ser muito difícil de elaborar.

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ESCALA DE LICKERT

Estas escalas são mais simples de elaborar do que as de Thurstone. As escalas de Lickert baseiam-se nas seguintes caraterísticas:

  • A valorização dos itens baseia-se em dados empíricos obtidos no grupo-alvo:
  • O sujeito assinala o grau em que está de acordo ou não com a opinião expressa;
  • Os itens não são independentes entre si, têm um grau de correlação entre si;
  • O autor não defende a existência de uma “distância uniforme” entre opiniões.

A escala de Lickert consiste numa lista de itens ou afirmações incidindo num objetivo. O sujeito assinala o seu grau de acordo ou de desacordo com a afirmação ou item numa ilha contínua, através de um valor numérico.

Exemplo:

54321
total acordode acordoindiferenteem desacordototal desacordo

Caraterísticas dos itens:

  • Todos os itens devem estar na mesma dimensão em relação ao objetivo a avaliar.
  • Como as atitudes têm uma componente emocional, os itens também a devem incluir, averiguando sentimentos.
  • Os itens devem ser variados, não averiguando apenas posições extremas mas também as intermédias.
  • Fidelidade: a um maior número de itens, deve corresponder maior precisão no resultado.

Interpretação dos resultados:

  • A soma das pontuações das respostas dá-nos um índice numérico da atitude do indivíduo.
  • As pontuações obtidas só têm valor em relação ao grupo inquirido ou ao grupo de referência, não têm valor absoluto.
  • Pode obter-se a mesma pontuação em dois indivíduos, sem que eles tenham a mesma atitude, pois depende a que itens correspondem as pontuações dos indivíduos.

Podemos concluir que o valor destas escalas é o de permitir comparar um indivíduo ao grupo de referência, comparar dois ou mais grupos ou um mesmo grupo em momentos diferentes para verificar a sua evolução.

O valor destas escalas resulta também do rigor colocado na sua construção e permitem uma avaliação mais sistemática dos objetivos propostos para a formação e das metodologias usadas.

Se as fizermos incidir no conteúdo e métodos dos planos de formação e das práticas pedagógicas, podem ser um bom instrumento de avaliação da formação. Avaliar atitudes e valores nem sempre é fácil, mas tal não pode ser justificação para uma atitude de desinteresse.

A informação obtida será sempre muito útil para uma reformulação das nossas práticas pedagógicas e para a elevação da sua qualidade.

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Conclusão

Para avaliar comportamentos o instrumento mais eficaz é a escala.

Existem diversos tipos de escala:

  • Escalas Numéricas – Traduzem num valor numérico o nível da caraterística avaliada;
  • Escalas Gráficas – Traduzem o grau recorrendo ao uso da adjetivação, em vez da atribuição de valores numéricos;
  • Escalas Descritivas – Utilizam uma descrição detalhada do grau do comportamento a avaliar;
  • Escalas de Atitude de Thurstone – As opiniões sobre um objetivo podem ser ordenadas do mais favorável para o menos favorável, a ordenação permite manter uma distância uniforme de opinião para opinião, as opiniões expressas são independentes entre si e a valorização de um sujeito resulta da média de valorização dos itens com que está de acordo.
  • Escalas de Atitude de Lickert – Baseiam-se nas seguintes caraterísticas: a valorização dos itens baseia-se em dados empíricos obtidos no grupo-alvo, o sujeito assinala o grau em que está de acordo ou não com a opinião expressa, os itens não são independentes entre si, têm um grau de correlação entre si;

Vantagens das Escalas

  • Focam melhor o campo de observação dos formadores;
  • Permitem cingir-se a objetivos mais específicos;
  • Permitem comunicar com clareza a informação recolhida, quer aos responsáveis quer aos formandos;
  • Permitem rapidez na avaliação;
  • Os dados arquivados, de fácil leitura, permitem observar o progresso de cada formando.

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