A Educação no Oriente Antigo

Comecemos por analisar com alguma profundidade a educação no oriente antigo. Apresentamos de seguida a estrutura deste artigo permitindo, dessa forma, ir diretamente para qualquer um dos capítulos ou subcapítulos.:

Índice

O Oriente e a Grécia

O estudo da história da pedagogia inicia-se habitualmente partindo do pensamento educativo da antiga Grécia. No entanto, os Egípcios, os Babilónios, os Persas, os Indianos, os Chineses e muitos outros povos do Próximo e do Extremo Oriente já tinham desenvolvido, antes dos Gregos, formas de educação complexas e eficientes. Por outras palavras, a história da pedagogia começa com a educação no oriente antigo.

Então, por que razão nos detemos, quando abordamos a educação pré-romana, quase exclusivamente na análise do povo grego?

Este povo, que desceu do Norte para ocupar a retalhada península entre o mar Jónio e o mar Egeu, civilizou-se ao contacto com a precedente civilização egeo-cretense (que, por outro lado, destruiu). Depois, à medida que se expandia pelas numerosíssimas ilhas daqueles mares e que estabelecia colónias na Asia Menor, na Itália e em Africa, absorveu muito da civilização egípcia, da fenícia, da persa, da babilónica, etc.

O Oriente e a Grécia antiga

Terá então a Grécia para nós tamanho interesse principalmente por ter recolhido, e no-lo haver transmitido, o património cultural de tantas civilizações precedentes?

Poucos teriam a coragem de responder afirmativamente a esta pergunta.

Porque estudamos os Gregos

Observemos, por exemplo, os temas de estudo de uma moderna escola secundária. Quase todos, até no próprio nome, denunciam a sua origem grega. Mesmo quando, como sucede com a geometria, sabemos que os Gregos foram por sua vez buscar muito ao património cultural de outros povos (Egípcios, Babilónios), sabemos também que eles reorganizaram e desenvolveram essa matéria de maneira a torná-la qualquer coisa de novo e de original. Tem assim a sua marca inconfundível. O maravilhoso rigor racional de uma demonstração geométrica é um dom que a humanidade herdou dos Gregos e de nenhum outro povo. Constitui ainda hoje o modelo ideal de um conhecimento científico perfeitamente organizado.

Este exemplo de geometria é porventura o mais típico, mas, para onde quer que alargássemos a nossa análise, obteríamos em quase todos os campos resultados análogos. Na arte, na observação da Natureza, na observação do homem (história, teoria política), os Gregos, ou reelaboraram com um espírito original tudo o que puderam aprender com os outros povos, ou fundaram diretamente novos ramos do conhecimento.

O aspeto criativo e libertador da cultura

Poderia ainda acrescentar-se que eles, não obstante deverem ser considerados os fundadores de quase todas as matérias de estudo de uma moderna escola secundária, são muito pouco responsáveis pelos aspetos áridos e mnemónicos que ali se possam encontrar. Estes remontam, antes, ao período romano-alexandrino, ou ao medieval. E quanto à civilização propriamente helénica (distinta por conseguinte da helenística) pertence mais o mérito de ter desenvolvido os aspetos criativos e libertadores da cultura. Aqueles aspetos que constituem ainda hoje o seu valor genuíno e permanente.

Saber gozar a beleza artística sem preocupações didascálicas, ter o gosto de interrogar a Natureza nos seus segredos, libertos de toda a mentalidade mágica ou ritualística, ver na história a obra consciente dos homens, e não de obscuras forças divinas ou demoníacas, eis a atitude que os Gregos foram os primeiros a desenvolver, e talvez de maneira ainda não superada.

Baseados em considerações deste género, é fácil passar a idolatrar a grecidade como uma espécie de milagre nascido do encontro de uma estirpe humana de excecional inteligência e sensibilidade com condições de ambiente e de clima extraordinariamente favoráveis, numa situação geográfica que facilitava a rápida assimilação de tudo o que de melhor tinham já elaborado as mais importantes culturas do Oriente mediterrânico. Digamos imediatamente que se trata de explicações largamente insuficientes, para não dizer inteiramente insatisfatórias.

Não existem povos inteligentes e povos estúpidos

Não existem povos inteligentes e povos estúpidos (salvas degenerações bastante raras de que não temos de nos ocupar aqui). O clima é certamente um fator relevante, mas apenas o é em conexão com certos níveis do progresso tecnológico, e o progresso tecnológico é obra estritamente humana.

Finalmente, a feliz situação geográfica em relação a outras civilizações não explica completamente a marca criativa de inconfundível originalidade que é própria da civilização grega.

Comparação entre a civilização grega e outras civilizações

O exame comparativo da civilização grega e das outras civilizações do Próximo e do Extremo Oriente sugere-nos uma ordem diferente de considerações: a sua organização política e social é radicalmente diversa da de todos os outros povos do tempo, com exceção, talvez, dos Fenícios, com os quais têm, no entanto, apenas de comum um certo número de particularidades das várias cidades-estados.

As outras civilizações orientais florescem todas no tronco de organizações estatais maciças, que se estendem uniformemente sobre grandes, e por vezes imensos, territórios. Potentes classes sacerdotais e guerreiras detêm o monopólio do poder e do saber ao mesmo tempo e constituem o indispensável instrumento de domínio dos monarcas, que aparecem rodeados de fausto e de honras dignas da divindade, e são considerados, por vezes, verdadeiras divindades na terra.

Um pequeno povo, outrora nómada e depois fixado na Palestina, apresentava, é certo, características bastante diferentes, mas o seu poder e a sua influência eram mínimos, mesmo nos breves períodos em que conseguiu manter a sua independência; a imensa importância do contributo dos Hebreus para a civilização do mundo só se fará sentir muito mais tarde, quando o seu estado for definitivamente destruído e eles estiverem dispersos em pequenos grupos pelas mais diversas regiões. De resto, também a dos Hebreus era uma civilização eminentemente sacerdotal, extremamente diferente, portanto, da civilização grega.

A civilização grega é uma civilização laica, na qual não existe uma classe sacerdotal poderosa e organizada, é uma civilização de cidadãos-soldados, onde não existe, salvo em tempos e lugares especiais, uma classe ou casta guerreira, é uma civilização que amadurece sobre estruturas político-sociais extremamente fracionadas (as cidades-estados), e nunca estáticas, mas em permanente desenvolvimento, no qual se afirmam, pela primeira vez na história do mundo, formas conscientes e elaboradas de democracia; é, por isso, uma civilização em que a discussão perante assembleias com poderes deliberativos tem uma larga importância, de maneira que o problema da persuasão racional (e assim a ciência e a filosofia) tem ocasião de aparecer sob formas anteriormente desconhecidas.

Estas seis ou sete características pressupõem, como um fundo no qual sobressaem por contraste, as quase opostas caraterísticas das civilizações orientais.

É provável que também as peculiaridades da educação grega se compreendam melhor vistas sobre esse mesmo fundo; por isso, será útil lançar pelo menos uma vista de olhos panorâmica sobre estas civilizações e sobre o lugar e os aspetos que nelas tomaram as práticas educativas.

As Civilizações Fluviais (Egito, Babilónia, Índia e China)

O Nilo, o Eufrates e o Tigre, o Indo, o Ganges e os grandes rios da China viram florescer nas suas margens formas de civilização muito avançadas alguns milénios antes da era cristã. Civilização significa cultura que já deixou de ser estática: cada geração não se limita a reproduzir quase exatamente os modos de vida das precedentes, mas há um acúmulo progressivo de capacidades técnicas, uma organização das crenças, um aperfeiçoamento, ainda que lento e descontínuo, do saber tradicional.

Não pode causar-nos espanto que isto aconteça nas planícies grandes e férteis, onde os orçamentos estáveis de populações agrícolas tornam possível uma divisão do trabalho bastante pronunciada, sempre que, é claro, as trocas em grande raio sejam favorecidas, não só por cómodas vias de comunicação, mas também por uma ordem política que impeça o banditismo e as guerrilhas. Grandes monarquias absolutas, apoiadas por poderosas classes de guerreiros e de sacerdotes, representavam, em tais condições, uma garantia de ordem e de bem-estar que normalmente compensava as populações do ónus de terem de trabalhar e de produzir, além de para o seu próprio sustento, para a manutenção, e muitas vezes o fausto, de grupos privilegiados.

Mas é talvez necessário esclarecer melhor o papel da classe sacerdotal. Em primeiro lugar, ela é depositária e guardiã ciosa de toda a ciência (se assim se pode dizer) acumulada ao longo dos séculos, e em breve transmitida, não já apenas oralmente, mas mediante um tipo qualquer de escrita.

Civilização Egípcia

Ciência, diremos nós, sagrada e profana ao mesmo tempo; é típico o caso dos sacerdotes egípcios, que eram inicialmente também escribas, médicos, embalsamadores, arquitetos e engenheiros hidráulicos. Foram eles que dividiram o ano em 365 dias, em tempos antiquíssimos, e eram capazes de calcular com uma boa aproximação a chegada das cheias do Nilo.

A Educação no Oriente Antigo - o antigo Egito
Educação no antigo Egito

A religião egípcia sofreu evoluções complexas, sem nunca superar a fase de um politeísmo organizado (ou enoteísmo) em que a divindade suprema era o Sol, venerado sob os nomes de , Osíris ou Amon: a tentativa do faraó Akhenaton de instaurar um rigoroso monoteísmo (o culto exclusivo do deus Aton, que é também o sol, mas o sol nascente e fecundante, em vez de ser o sol que preside ao reino dos mortos, como Amon) acabou tragicamente. Os sacerdotes egípcios mostraram-se sempre habilíssimos em conciliar a exigência de uma organização unitária das divindades com a multiplicidade, inclusivamente regional, destas e com as crenças animistas e totemistas ainda vivas nas populações mais incultas (donde o culto dos deuses sob a forma de animais: boi, crocodilo, gato, cegonha, gavião, etc.).

Mas a crença egípcia mais típica e mais difundida foi a de uma segunda vida, concebida de maneiras várias. É ainda a ideia de um julgamento por Osíris e uma espécie de lugar de recompensa para os que dela fossem merecedores. Era importante a boa conservação do corpo, o que explica a prática da mumificação para os ricos ou da sepultura na areia seca, que conserva por muito tempo os cadáveres, para os pobres. As precauções tomadas para impedir a profanação dos túmulos atingiram formas obsessivas, incríveis, como sabem todos aqueles que leram a história do achamento da múmia de Tutankhamon.

Apesar da ampla parte que nela ocupava a religião, a civilização egípcia desenvolveu uma moral essencialmente utilitária. São numerosíssimas as máximas de sabedoria que os papiros nos transmitiram, e muitas delas dizem respeito às vantagens do estudo, mas trata-se sempre e unicamente de vantagens práticas. As classes sociais egípcias não eram castas fechadas, e, dentro de certos limites, era possível, estudando com mestres particulares, ascender à posição de escriba da categoria mais modesta, isto é, escrivão ou contabilista em serviços públicos (ou em empresas comerciais).

Mais difícil devia ser a admissão nas grandes escolas sacerdotais de Mênfis, de Heliópolis ou de Tebas, onde se formavam os escribas de categoria mais elevada, com funções administrativas e legais, e também os médicos, os engenheiros, os arquitetos e os próprios sacerdotes (mas à classe sacerdotal não pertenciam só os sacerdotes propriamente ditos, e sim todos os profissionais de categoria superior). Trata-se sempre e em qualquer circunstância de uma educação de carácter prático e profissional, tanto no sentido de que o conhecimento e a cultura não eram procurados por si mesmos, mas pelas suas aplicações, como no de que se tinham presentes unicamente as vantagens práticas que derivavam para os indivíduos do facto de se haverem dedicado a uma das profissões superiores.

O povo era quase completamente iletrado, estudar com êxito significava chegar pelo menos a escriba da categoria mais modesta, o que, como adverte (num papiro) um pai no momento de inscrever o filho na escola, é mais cómodo do que exercer a profissão de fundidor, de barbeiro, de canteiro, de jardineiro, ou de pescador, ofícios dos quais enumera meticulosamente a dureza, os inconvenientes e os perigos.

«O homem ignorante», está escrito noutro papiro, «é como um burro pesadamente carregado; é guiado pelo escriba.»

E outro, ainda, reza assim: «Atira-te ao trabalho e torna-te escriba, porque então serás guia dos homens.»

Os próprios conhecimentos científicos dos Egípcios tinham também um carácter eminentemente prático e empírico. A geometria servia, ao pé da letra, «para medir a terra», para traçar novamente os limites dela depois das cheias do Nilo; a aritmética servia para as contas do comércio e do fisco; a mecânica e a hidráulica, para a engenharia e para a arquitetura; a astronomia, para o cálculo das estações; e assim por diante.

Chegaram a conseguir resultados práticos admiráveis e grandiosos, mas não há notícia de nenhuma tentativa de sistematização ou de aprofundamento teórico, a tal ponto que dá vontade de perguntar a que aludia precisamente Platão quando, confrontando a ciência dos Gregos com a dos sacerdotes egípcios, concluía: «Ó Gregos, vós não passais de crianças!» O mesmo Platão, porém, contrapõe, noutro lugar, o espírito científico dos Gregos ao amor do ganho, próprio dos Egípcios e dos Fenícios.

A observação mais justa que se possa fazer é certamente a de que, mesmo no seu utilitarismo prático, as ciências desenvolvidas pelos Egípcios formavam um conjunto tão imponente e cooperavam na criação de uma ordem tão grandiosa que não podiam deixar de suscitar admiração, sobretudo da parte de um grego habituado à genial desordem da sua vida social e política e até dos monumentos da sua pátria, apinhados nas suas acrópoles, e na verdade muito menos imponentes do que o templo de Ámon em Karnak, que se calcula tivesse o dobro do tamanho da Basílica de S. Pedro!

Pouco sabemos dos métodos educativos dos Egípcios, e esse pouco não é de natureza a despertar o nosso entusiasmo: segundo parece, as suas bases eram a memorização e a vergasta. Eis uma máxima pedagógica que nos apetece citar como pura curiosidade arqueológica: «Os ouvidos dos rapazes estão nas costas: eles ouvem quando são sovados!»

Civilização Babilónica

Muitos pontos de contacto com a civilização egípcia tem a civilização babilónica, tão antiga como aquela, ou pouco menos. A classe sacerdotal era ali ainda mais poderosa do que no Egipto, e constituía quase uma casta fechada. Os sacerdotes da Babilónia são versadíssimos em astrologia, desenvolvem a matemática até um grau altíssimo de eficiência prática, instituem a semana, inventam os signos do zodíaco, determinam com suficiente exatidão a duração do ano e formam bibliotecas imensas de tábuas com caracteres cuneiformes.

Educação na antiga Babilónia
Educação na Babilónia

Têm a seu cargo a educação superior, reservada à sua classe, à dos ricos comerciantes, aliada à sua, e à dos guerreiros, cujo poder, porém, combatem e enfraquecem.

O resultado desta última operação foi a Babilónia ter acabado por sucumbir frente aos Assírios, militaristas e incultos, famosos na história por terem constituído um dos maiores impérios da Antiguidade sem deixarem o mínimo vestígio positivo no capítulo das realizações civis.

A Babilónia voltou a erguer-se por pouco tempo, cedendo finalmente frente aos Medos e aos Persas reunidos. Mas influenciou profundamente estes povos, assim como os Hebreus, os Fenícios e os próprios Gregos.

Também dos métodos educativos babilónicos temos escassas notícias. Sabemos que os seus objetivos eram essencialmente práticos, como no Egipto, mas que, em contrapartida, estava mais desenvolvido o aspeto científico, e talvez também o literário. Mas a astrologia, a magia e a adivinhação impediam o desenvolvimento de um autêntico espírito científico. Uma pesada tradição mágico-sapiencial esterilizava toda a força criadora individual. Até os artesãos estavam organizados em corporações fechadas, embora com possibilidades de adoções extrafamiliares.

Tanto no Egipto como na Caldeia, o solo quase nunca pertencia a quem o cultivava: pertencia ao rei, aos sacerdotes ou ao templo, e aos guerreiros. E abaixo das classes organizadas existiam numerosíssimos escravos, fruto, em grande parte, da atividade guerreira (cuja importância económica na Antiguidade é bastante grande, mesmo não contando com as conquistas territoriais: era a conquista de mão-de-obra barata).

Índia

Mas um verdadeiro sistema de castas, ferozmente fechado, só o encontramos na Índia, algum tempo depois da conquista dos Arianos, por volta do ano 2000 a. C.

De uma precedente e muitíssimo florescente civilização do vale do Indo, cujos restos foram descobertos há apenas poucos decénios, sabemos pouco para que valha a pena falar dela.

Educação no Oriente Antigo - a Índia
Educação na Índia

As classes, provavelmente resultantes da estratificação de sucessivas conquistas e das diferentes resistências a elas opostas pelas populações autóctones, eram assim divididas: brahmanes ou sacerdotes, guerreiros, comerciantes e pastores (Vaisya), servos (Sudra) e intocáveis ou sem casta {Párias}. A separação entre as castas é rigidíssima, e a educação, nitidamente diferenciada.

A literatura sapiencial dos Vedas é reservada às castas superiores: segundo as leis de Manu (200 a. C.) a um sudra que ouvisse ler o Veda deviam encher-lhe as orelhas de chumbo derretido; se o recitasse, deviam cortar-lhe a língua. Porém, um sudra que servisse com dedicação e humildade poderia atingir uma casta superior na próxima encarnação.

O brahmanismo ensina, de facto, a transmigração das almas através de uma multiplicidade de existências animais e humanas, até à reabsorção e ao anulamento final no seio de Brahma.

A civilização indiana, faustosa e sem piedade, e ao mesmo tempo, por estranha contradição, ascética, renunciatória e niilista, desenvolveu valores quase inteiramente ignorados pelos Egípcios e pelos Babilónios: um sentido de pânico do devir universal, uma busca da harmonia interior e de fusão mística com o Todo, uma disposição contemplativa do espírito que chega a anular em si todo o desejo.

Nestes elementos, encaminhando-os no sentido do amor e da fraternidade universal, se apoiou um dos maiores espíritos da humanidade, Gautama, chamado o Buda (que significa o iluminado ).

China

Ao ideal de imobilidade, mística ou social, desenvolvido na civilização indiana, corresponde, na China imensa, um ideal de imobilidade institucional: conservar a ordem familiar, política e social estabelecida é preocupação dominante em Confúcio, que foi quase contemporâneo de Buda, final do século VI a. C. Não eram tanto os privilégios herdados que tinham de ser mantidos (na China não existem castas), mas antes as funções, as instituições.

A experiência da anarquia em que caiu o gigantesco império, formado entre o terceiro e o segundo milénios a. C., e que abrangia as bacias, não de um, mas de três enormes rios, marcou o ensino de Confúcio de uma sabedoria conservadora. O Estado deve ter a mesma unidade indissolúvel da família, o imperador é o bom pai de todos e goza de direitos ilimitados, a boa administração impõe deveres minuciosos e precisos a todos, e o que conta na vida é cumprir (neste sentido legalístico) o dever. As formas, mesmo as formas exteriores de cortesia, são obviamente cuidadas ao máximo num país em que o respeito pelos pais, pelos velhos, pelas tradições, é considerado o valor supremo e onde, por isso, se desconfia de qualquer género de novidade.

Educação no oriente antigo - a China
Sistema educativo – China antiga

Trata-se de um ideal eminentemente prático-político, ao qual uma vaga religiosidade naturalista serve apenas de fundo; não existe, por consequência, uma casta de sacerdotes, mas uma classe de funcionários (os chamados mandarins) que coincide plenamente com a dos homens de cultura.

Foi-se desenvolvendo sempre, de facto, um complexo sistema de exames de Estado, e só eles davam acesso às diversas categorias da administração pública, aos quais, por outro lado, todos são teoricamente admitidos. Na prática, só os ricos podem permitir-se gastar dinheiro com a preparação cultural dos filhos (normalmente em escolas particulares, escolhidas em função do exame de Estado), tanto mais que se tratava de uma preparação literário-formalista, que não servia para nada, ou quase, a quem não conseguisse superar as provas muito seletivas, e empregar-se na administração.

Toda e qualquer ambição de originalidade era desencorajada, imperava o tradicionalismo mais pertinaz, como está provado pelo próprio facto de até hoje ter mantido um sistema ideográfico de escrita, complicadíssimo, quando os Egípcios e os Babilónios superaram a fase ideográfica pura ainda no segundo milénio antes da era cristã.

Entretanto, na China o sistema ideográfico representava, e talvez represente ainda, uma vantagem, por ser relativamente independente das particularidades da pronúncia e da variedade dos dialetos (que na China chegam a ser verdadeiras línguas bastante diferenciadas). Também aqui o problema é manter a unidade de um corpo social desmesuradamente grande, e a exigência que daí deriva é conservadora.

Outras Civilizações do Oriente (Fenícios, Persas e Hebreus)

Já vimos como as grandes planícies fluviais, onde as condições naturais tinham favorecido a divisão do trabalho (com base agrícola), a troca de mercadorias num largo raio e, em consequência, o progresso tecnológico e civil, a própria necessidade de manter a coesão social e a ordem constituída levaram as civilizações ali nascidas, ainda que admiráveis, a cristalizarem-se em formas fechadas de tradicionalismo, que faziam da educação uma mecânica prática de mnemotecnia, a ignorarem a individualidade dos estudantes e a desencorajarem neles qualquer impulso original.

Pelo contrário, tiveram um caráter bastante diferente algumas civilizações desenvolvidas por povos numericamente bastante inferiores, e sobretudo bastante menos favorecidos pelas condições naturais, como os Fenícios, os Persas e os Hebreus.

Os Fenícios

Pouco sabemos da educação fenícia, mas é lícito presumir que deve ter tido um carácter eminentemente prático (não diferindo nisto da dos povos considerados, que encorajava a iniciativa, a assimilação da novidade, o engenho e provavelmente também a astúcia sem escrúpulos, pelo menos no que dizia respeito aos estrangeiros. Pelo menos temos de concluir assim, a julgar pela rapidez e pela maestria com que este pequeno povo de navegadores, a um tempo piratas, comerciantes e colonizadores infatigáveis em quase todas as costas do Mediterrâneo, não só chegaram a realizar progressos na sua técnica de navegação, mas assimilaram e aperfeiçoaram técnicas industriais e de artesanato aprendidas com os Egípcios, com os Babilónios, com os Persas, etc., e simplificaram a técnica da escrita até chegarem, finalmente, a um sistema puramente alfabético.

Educação do povo Fenício

Entre os Fenícios a única aristocracia existente é a classe industrial e comercial (sendo, como eram, míseros os proventos do magro solo), que controla a religião (bastante grosseira e materialista), os sacerdotes, a administração das cidades (embora organizada em monarquia), as indústrias mais importantes (era famosa a da tinturaria) e, sobretudo, a frota de barcos relativamente grandes, capazes de longas navegações.

A civilização Fenícia não atingiu nunca uma verdadeira unidade política, e a organização política era fundada na cidade-estado de carácter monárquico-aristocrático, e análoga forma política tinham as numerosas e por vezes poderosas colónias.

Os Persas

Um tipo de civilização em muitos aspetos completamente diferente e quase oposto foi desenvolvido pelos habitantes do planalto irânico, os Medos e os Persas. Agricultores fixados num solo pobre, sabiam torná-lo produtivo e fértil com o trabalho persistente e inteligente ( a palavra «paraíso» era usada no início pelos Gregos para designar os harmoniosos jardins quadrados, com uma fonte ao meio, pelos quais os Persas eram famosos) ; tinham substituído o primitivo politeísmo naturalista, devido sobretudo ao impulso de Zoroastro ( ou Zaratustra) pelo mazdaísmo, religião altamente espiritual, que faz do homem o aliado do princípio do bem (Ahura Mazda, ou Ormazd, deus da luz) na luta permanente contra o princípio do mal (Ariman, deus das trevas) ; guerreiros valorosos e infatigáveis, viam na guerra uma maneira de afirmar sobre todos os povos vencidos, que tratavam com uma generosidade desconhecida no mundo antigo, a ordem harmoniosa da sua civilização superior.

Educação no império Persa
Educação na antiga Pérsia

No decurso de um século (o século VI a. C.), os Persas fundaram o maior império que a Antiguidade tinha visto até então: estendia-se do mar Cáspio ao Egipto, do golfo Pérsico à Trácia.

A civilização dos Fenícios nasceu de um desafio ao mar; a dos Persas, de um desafio a todas as civilizações diferentes da deles. Só pararam diante da pequena Grécia, que defendia desesperadamente um princípio de ordem diverso, um diverso sentido da harmonia, desenvolvidos, por assim dizer, mais em intensidade do que em extensão.

A educação persa tinha apenas um aspeto comum com a fenícia: não anulava completamente a individualidade, não se entregava à memorização mecânica, não tendia para a simples perpetuação de uma ordem constituída, mas promovia, em certa medida, formas de ativismo dinâmico.

Não tinha em vista certamente, por outro lado, favorecer o espírito empreendedor do navegador e do comerciante, todo voltado para o ganho, mas a do guerreiro, mais tarde também a do funcionário chamado a cuidar da organização do vasto conjunto de satrapias em que o império estava dividido. Se dermos crédito à Ciropedia (A Educação de Ciro) do grego Xenofonte, a educação persa aproximava-se muito da espartana, de que falaremos mais adiante. É certo que ela tendia essencialmente para a educação física, religiosa e moral do guerreiro, fazia pouco ou nenhum caso da instrução literária e da própria aprendizagem da escrita, salvo pelo que respeita à classe sacerdotal (hereditária, mas politicamente pouco poderosa: eram os famosos magos), empenhada na transmissão do dualismo religioso de Zoroastro, conciliando-o com as sobrevivências politeístas, que eram enquadradas em dois grandes exércitos de espíritos ao serviço, respetivamente, de Ormazd e Ariman, isto é, da luz e das trevas.

Naturalmente, no contacto com as requintadas e corrompidas civilizações que chegaram a dominar, os Persas acabaram por absorver-lhes a cultura e os germes de decadência, e, apesar de continuarem a exaltar por palavras a dura vida militar e o sadio trabalho dos campos, na realidade, habituaram-se ao luxo que lhes vinha do imenso império conquistado.

Os quadrados das falanges macedónias encontraram-nos incapazes de o defender.

Os Hebreus

Entre os atos de magnanimidade que a história atribui aos Persas, o mais carregado de consequências para a civilização do mundo foi, sem dúvida, a decisão tomada por Ciro, conquistador da Babilónia, para onde os Hebreus do Reino de Judá tinham sido deportados cinquenta anos antes, de dar a estes a liberdade, autorizando-os a voltar para a Palestina e a reconstruir o templo destruído de Salomão, ficando apenas formalmente tributários da Pérsia (536 a. C.). Considere-se que, pelo contrário, das dez tribos que constituíam o Reino de Israel, deportadas pelos Assírios dois séculos antes, não ficaram vestígios na história (falava-se delas, de facto, como das «dez tribos perdidas»).

Povo nómada de pastores, os Hebreus, originários do mesopotâmico país de Ur, tinham alcançado o Egipto, fugido dali, e conseguido, no ano 1200 a. C., instalar-se de maneira estável na Palestina, tornando em parte agrícola a sua economia exclusivamente pastoril. Em contacto com as civilizações mais adiantadas da época, absorveram delas muitíssimos elementos culturais, sem se deixarem nunca absorver por eles. A sua principal força residia no princípio religioso espiritualista e individualista que haviam conseguido elaborar. Enquanto os povos agrícolas, fixados num território, divinizavam de preferência as forças naturais, os animais, os lugares, os Hebreus conceberam Deus como um espírito desligado de tudo o que é particular e contingente, que velava por eles do alto nas suas intermináveis peregrinações, perscrutava as suas almas, os punia e os premiava, coletiva ou individualmente, segundo as suas culpas e os seus méritos.

Sistema Educativo do Oriente antigo - os Hebreus
Educação no Oriente Antigo – os Hebreus

No início Jeová ou Iahvé deve ter sido concebido pelos Hebreus como o seu Deus particular, cuja existência não era incompatível com a dos deuses dos outros povos: «Todos os povos caminham em nome do seu próprio Deus, e nós caminharemos em nome do nosso Senhor Deus para todo o sempre.» Assim diz o profeta Micah. Mas depois, por obra de Elias e de outros profetas, os Hebreus acabaram por conceber, pela primeira vez na história da humanidade, um rigoroso monoteísmo, cuidadosamente depurado de todos os resíduos de idolatria.

Os profetas não eram propriamente sacerdotes, mas pregadores laicos que se sentiam possuídos pelo verbo divino: o juiz Samuel, o mesmo que induziu os Hebreus a escolherem Saul como único rei, promoveu também a instituição de escolas proféticas, de maneira que os seus ensinamentos puderam ser aprofundados e tornados mais eficazes. Os profetas foram os primeiros grandes educadores do povo hebreu, cuja instrução mais elementar estava ao cuidado da família; um profundo sentimento religioso, que englobava e sublimava os afetos familiares e o patriotismo, constituía a inspiração profunda de uma educação, não formalmente organizada, mas moralmente mais eficaz do que qualquer outra educação oriental.

Depois do cativeiro de Babilónia, encontramos, porém, já formada, entre os Hebreus, uma classe de escribas, os quais (porque conheciam, entre outras línguas, o antigo hebraico, quando o povo já só falava o aramaico ou o grego) auxiliavam os sacerdotes na interpretação da Lei e na compilação de um conjunto de comentários, normas morais e jurídicas, preceitos religiosos e rituais, que tomou o nome de Talmud. Apareceram então as sinagogas (que inicialmente não eram lugares de culto, mas de instrução religiosa), enquanto toda a forma de instrução profana era dada pelos escribas a domicílio ou em lugares oferecidos por cidadãos ricos.

Junto das sinagogas surgiram escolas elementares, que se difundiram a tal ponto que no ano de 75 a.C. essa instrução elementar foi tornada obrigatória em Jerusalém, e nove anos mais tarde, em todo o território. Segundo as prescrições do Talmud, cada mestre devia ter mais de 25 alunos, ou mais de 40 se fosse auxiliado por um assistente.

A caraterística da civilização e da educação hebraicas reside, pois, no espírito religioso que lhe dá forma, refunde e molda em unidade os ricos influxos culturais recebidos dos Babilónios, dos Egípcios, dos Persas e dos Gregos. Não faltaram nos primeiros tempos aspetos de grosseira superstição, e nos últimos, degenerações formalistas. Aquelas contra as quais se insurgirá, mais tarde, Jesus Cristo.

Mas, no conjunto, temos de reconhecer à educação hebraica, não só o mérito de ter dado importância aos valores individuais (o que já reconhecemos à educação fenícia e à persa), mas também de ter feito chamada a uma lei de interioridade moral, que tem por único ponto de referência um Deus universal, infinitamente bom e justo.

Não pode admirar-nos o facto de que enquanto o livro bíblico dos Provérbios (largamente inspirado na sabedoria egípcia) recomendava os castigos corporais, o Talmud os condene expressamente.

A história da pedagogia

A Educação no Oriente Antigo é o 3º artigo publicado da história da pedagogia e o primeiro da categoria CULTURA E EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE. Os dois primeiros artigos fazia parte da INTRODUÇÃO e, caso ainda não os tenha lido, são:

O que vem a seguir

A seguir vamos continuar na categoria CULTURA E EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE com os artigos seguintes: